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Criança e antidepressivo

Criança e antidepressivo

| Por Jagran |

Acho triste como remédios antidepressivos sejam algo tão banal hoje em dia, o jeito que a pessoas tratam isso como algo natural e não um estado crítico. Eu com 13 a 14 anos tomei fluoxetina, um dos antidepressivos mais comuns. O propósito na época era “emagrecer”, então minha mãe me levou em uma endocrinologista, que me receitou na primeira consulta esse remédio para controlar a ansiedade.

Contando isso para um amigo esses dias, ele me perguntou qual era a sensação que eu tinha na época em que tomava e eu fiquei chocado, porque nunca tinha pensado sobre, mas na realidade minha resposta foi “nenhuma”. Nenhuma sensação no corpo, era sempre uma constante, sem altos e baixos, algo neutro. Olhando agora, era como se fosse um vegetal que andava: acordar, ir para a escola, voltar pra casa, jogar videogame a tarde inteira, comer e dormir. Na época não tinha mais nenhuma vontade de criar nada, nenhum prazer, atração por ninguém, alegria ou tristeza, zero. Fui parando de tomar o remédio por conta e, quando parei total, comecei a ter que lidar com o que realmente tava acontecendo dentro de mim. Lidar com a dor que tinha ainda da separação dos meus pais, a tristeza que sentia em ser obeso e não me sentir desejado por nenhuma garota, entre muitos outros sentimentos que carregava dentro.

Os pais, médicos e professores que têm tratado e receitado remédios como se as crianças tivessem algum defeito de fábrica ou sofressem de algo além desse mundo, deveriam ao menos questionar mais a fundo o motivo desse estado emocional. Hoje eu vejo que se tivesse recebido um afeto verdadeiro do meu pai, uma validação da minha mãe mais profunda ou apenas uma alegria deles em estar na minha companhia, eu não me sentiria tão culpado por seus problemas e os meus com a minha autoestima certamente seriam menores. Falo isso por que só consegui curar de verdade essas dores dentro de mim vivendo amores verdadeiros, abrindo meu corpo através de técnicas que me ajudaram a expressar essas tristezas, raivas, resgatar minha sexualidade e que me deram foco pra realizar aquilo que me dá prazer, estando mais consciente dos meus sentimentos e lidando de uma forma natural, espontânea, alegre e sem nenhum comprimido.

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