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Você já desistiu do amor?

Você já desistiu do amor?

| Por Hari |

Decidi escrever esse texto depois de passar 1 mês e meio nas ruas de São Paulo vendendo o livro “Por que Você Mente e Eu Acredito?” do Prem Milan. É um livro que fala sobre amor de uma forma diferente, mais profunda e sincera, que te faz olhar para suas atitudes, inseguranças e te instiga a querer amar de uma maneira mais verdadeira. Mas, quando eu abordava as pessoas para falar sobre esse assunto, era muito comum ouvir “não, se o livro fala sobre isso eu não quero nem ver”. Ou então respondiam rindo que já desistiram de se relacionar.

E aquilo me instigou: por que estamos tão fechados pro amor? Para um sentimento tão essencial, tão natural na vida de um ser humano? Você já sentia amor muito antes de saber quem você era, você nasceu com essa capacidade. Todos nós! Ninguém precisou te ensinar como amar, como se abrir – uma criança não tem problema nenhum em demonstrar afeto e por isso ela tem uma beleza, uma totalidade em tudo.

Lembra quando seu amor era ingênuo, puro? Como eram seus amores de infância, de adolescência? Aquele frio na barriga, aquela intensidade… Me lembro quando eu tinha uns 4,5 anos e era apaixonada por um amiguinho da escola. Eu ficava nervosa quando chegava na escola e via que ele tava lá. A gente sentava um do lado do outro durante a aula e me lembro da sensação de quando dávamos as mãos embaixo da carteira. Só isso: mãos dadas. Passávamos a aula inteira com as mãos dadas e meu rosto ficava todo quente de tanto nervosismo e euforia. Eu não prestava atenção em nada: só aquilo importava, e isso era bonito.

Até que um dia, a diretora da escola nos chamou na sala dela para dizer que o que estávamos fazendo era muito errado e tínhamos que sentar separados. Repito: mãos dadas. Para alguém olhar aquela cena tão bonita e ter coragem de reprimir duas crianças descobrindo uma paixão tão ingênua, é preciso estar com o coração muito, muito fechado mesmo.

Acho que, de alguma forma, é isso que tá acontecendo: o mundo está espalhado de diretoras frustradas dentro de cada um, acreditando e propagando mentiras à respeito de um sentimento tão bonito. A gente cresce e acha que virar adulto é se fechar pras belezas da vida. A gente confunde maturidade com frieza. Agora eu te pergunto: na sua vida hoje, alguma coisa faz você se sentir como eu me sentia com aquela mão entrelaçada na minha?

E do que vale a vida se a gente desiste do amor? O amor é a força mais poderosa e transformadora que existe! Ele traz um frescor, uma vontade de viver coisas novas, um frio na barriga bonito. Quando a gente se apaixona é um momento que a gente realmente se entrega pro risco que existe em estar vivo – você não sabe o que vai acontecer, mas aquele sentimento toma conta do teu ser, te tirando do controle de uma forma boa.

As referências mais legais que eu tenho de mim mesma e muito do que eu já transformei e cresci na minha vida foram frutos de histórias de amor que eu vivi. E, por incrível que pareça, já tiveram momentos que esse amor nem era correspondido mas só de sentir meu coração vivo alguma coisa já estava movimentando dentro de mim.

Mas todo esse frio na barriga dá também muito medo – o risco de sofrer, tomar um tombo lá na frente é enorme. Se a gente simplesmente conseguisse aceitar sentir dor, teríamos uma entrega bem maior, mas as pessoas estão fugindo de lidar com a realidade. É claro que é mais fácil se anestesiar com uma vida muito corrida, com bebida, comida, futilidades, internet do que encarar nosso medo de amar. Quando a gente termina um relacionamento, é claro que dói. Você abriu seu coração para aquela pessoa, viveu momentos bonitos e, em algum momento, o amor acaba.

Só que isso faz parte de estar vivo: sentir dor. E, pra não correr esse risco, a gente passa a vida inteira atrás de uma segurança e não do amor. O relacionamento considerado que “dá certo” é aquele que dura e não aquele que os dois estão em crescimento, numa parceria, sendo seus maiores potenciais. Na prática, os casais ficam juntos muito mais tempo do que deveriam, empurrando uma relação que já não tem sentido pelo puro medo de estar só ou da outra pessoa se apaixonar por alguém.

E quando vamos ter a coragem de olhar para si? Olhar profundamente o nosso lado que sabota o amor? A maioria opta por se fechar, invalidar toda a história do que olhar para o seu lado. Aquelas coisas que você deixou de bancar por medo do atrito, aquelas pequenas mentiras inofensivas que você conta pra não ficar sozinho, e por aí vai. A verdade é que todos nós temos um monte de carências, dependências e necessidades que jogamos na outra pessoa quando estamos nos relacionando e isso, aos poucos, vai matando o amor.

Pra começar, quando um casal começa a namorar, o primeiro sintoma é se afastar de todos os amigos. Não existe nenhuma confiança no amor e você precisa que aquela pessoa esteja o tempo inteiro contigo pra garantir que ela te ama. A partir daí, qualquer outra pessoa se torna uma ameaça: se o seu parceiro se diverte com outras pessoas você já acha que ele não vai mais querer estar com você. Se forem pessoas do mesmo sexo então, nem se fala!

Agora pára e olha a prisão que isso significa. Prisão essa que você e toda a sociedade tende a encarar como natural: você espera seu amigo terminar o namoro pra ele voltar a ser ele. As pessoas consideram ciúmes, posse, controle como algo normal nos relacionamentos. É como um pacto generalizado: você aceita ser controlado porque quer ter o direito de controlar também. Mas controle não tem nada a ver com amor.

Então só posso te dizer que, para amar de verdade, é preciso autoconhecimento. E o primeiro passo é termos a humildade de assumir que não sabemos quase nada sobre o amor.

Sabe aquele amor puro que eu senti lá atrás? Ele foi massacrado não só por aquela diretora! Nossos pais também são adultos com essa capacidade limitada de amar. E, conforme a criança cresce, a gente aprende como deve agir pra receber amor dos nossos pais. De algum jeito, a mensagem que fica é sempre que não merecemos ser amados como somos. Ali começa a merda.

Agora somos adultos que não sabem amar de um jeito livre e verdadeiro porque não amamos nós mesmos. Como você vai confiar no amor, relaxar em se entregar para alguém se, no fundo, você não sente que merece ser amado? Claro que isso não vem em letras garrafais na sua cabeça, mas se pararmos um pouco para refletir sobre a origem de toda nossa insegurança e nosso medo, vai ver que está lá atrás.
Então meu convite é: não desiste de amar. Não joga fora esse potencial tão rico que é estar apaixonado.

O mundo precisa disso, você precisa disso: não faz sentido passar por esse mundo sem viver grandes amores. Encontra dentro de ti a coragem necessária de se autoconhecer, de enxergar como, na sua história, o seu amor foi distorcido para limpar isso e fazer diferente na sua vida. Pra valer a vida, AME!

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