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Pela falta de amor me tornei um viciado

Pela falta de amor me tornei um viciado

É triste falar isso, é triste relembrar isso, porque eu também sempre quis tapar o sol com a peneira. Eu me lembro bem jovem mesmo que, pra eu me sentir homem, eu tinha que fumar um cigarro. Na minha época era assim, e eu estou falando dos anos 60. Aquele cigarrinho… era assim que eu me sentia macho, sabe? Eu me lembro nitidamente que eu nem gostava muito de fumar, mas vinha vindo uma guria e eu botava o cigarro na boca e fumava.

E depois, como naquela época era uma pobreza, a gente quebrava a ponta do cigarro e guardava o toco, pra continuar na próxima. Muito engraçado isso. Uma certa vez no inverno, tinham umas gurias, eu botei o cigarro na boca, (às vezes eu botava só o cigarro na boca e nem chegava a acender), mas daquela vez eu acendi. Dei umas pitadas, elas passaram, apaguei e quando vi tava pegando fogo no meu bolso. Quando eu me lembro de tudo isso, é muito engraçado, mas muito triste também porque me remete à solidão que eu tinha. Olha, uma solidão muito forte. E foi por isso que eu me viciei em cigarro.

Eu fumei muito – durante 43 anos! É muito tempo, muito tempo mesmo. Eu fui num médico e, quando eu disse, ele respondeu “Bom, vamos lá ver teu pulmão, deve ser um manto preto”. E o cara analisou, olhou, fez exame, fez raio-x e tudo quanto é coisa, mas ele não acreditava. “Está limpo, não estou vendo nada no teu pulmão”. Eu fiquei chocado, eu tinha em torno de 47 anos naquela época. E mandando-lhe fumaça, né? E isso foi o sinal para eu fumar mais ainda, porque eu gosto de fumar, eu amo fumar.

Era um prazer incrível, muito impressionante, aquilo me dava um conforto. Antes de dormir tinha que fumar aquele cigarrinho. Sabe aquele cigarrinho para acalmar coração carente? Eu também era muito fissurado por ter uma namorada, pra amar alguém, e eu não tinha coragem de chegar nas gurias. Eu não tinha coragem porque, poxa, eu tinha uma mãe que nunca levantou a mão pra mim pra fazer um carinho.

Eu não me lembro de algum carinho, algum abraço dela, jamais. Eu só me lembro de bofetadas, chineladas, surra com cinta, com vara. Isso eu tenho uma memória imensa. Então aquela que eu amava e que deveria me amar me machucava muito. Então, quando eu amava uma mulher, ela era pra mim sempre um símbolo de medo. Quando eu não amava, era todo gargantão, desinibido, mas se me tocasse um pouco virava um cagaço só. E ali eu me viciei no cigarro por 43 anos. Depois eu vou falar porque que eu não fiquei com o pulmão baleado.

E fiquei também totalmente viciado em comida, porque a única demonstração de amor que vinha da minha mãe eram as suas comidas. Olha, as suas comidas eram boas demais! Uma alemã que fazia uns doces de arrebentar, um frango recheado – frango verdadeiro daquela época, que era algo impressionante. Sua massa feita em casa era maravilhosa. Eu substituí todo amor, validação – tudo o que eu precisava – por comida. Então eu passei minha adolescência oscilando: sempre gordinho, me sentindo uma bosta por ser gordo. Eu me sentia mal, sem autoestima, sem nada. Então foi toda uma adolescência muito sofrida. E Coca-Cola, né gente? A doce e amada Coca-Cola. Deus do céu! Uma Coca-Cola gelada era demais. Olha, eu cheguei numa fase, entre os 20 e os 30 anos, eu chegava a tomar mais de um litro por dia de Coca-Cola. Parece absurdo, mas tomava.

Então era aquela guerra forte contra o peso. E, depois, eu fui vendo durante toda a minha vida, que isso tudo estava sempre ligado ao amor. As épocas que eu tava sozinho, eu tinha que tomar Coca-Cola de balde, comia açúcar de pilhas, sabe? Pãozinho, cacetinho, aquele quentinho, eu comia sem parar. E aquilo é puro brometo de potássio: um aditivo que deveria ser impróprio pra uso, porque causa muitos danos ao corpo.

Eu não aguentava, eu comia cinco cacetinhos, e estava sempre em guerra contra o peso. Até que teve um momento que eu consegui vencer essa guerra, parcialmente. E isso foi com a ajuda da bioenergética e das meditações do Osho. Elas me salvaram. Meu pulmão não apodreceu por causa das meditações. Eu me lembro que, às vezes estava me sentindo mal, encatarrado, ia lá fazer uma meditação dinâmica e botava pra fora com expressão emocional. Isso impediu que meu pulmão apodrecesse e virasse puro câncer. Choros, choros e mais choros.

E, devido às meditações e à bioenergética, eu consegui romper com meus limites e expressar meu amor. E daí eu tinha um amor que me acalmava, porque lá na minha base, na minha infância, eu não tive nada. Eu não tive amor, eu tive açúcar, farinha branca. As cucas da minha mãe eram algo fantástico. Olha, quase uma transa, eu te juro! Eu me lembro das sensações orgásticas que eu tinha comendo a cuca que ela fazia todo sábado. Gente, era demais.

E hoje, com 67 anos, eu estou aqui nas estradas do Uruguai, indo para o Uruguai e Argentina para desestressar e continuar o meu processo de baixar a glicose. Já estou conseguindo baixar bastante, mas é uma luta. Por que? Porque eu não quero morrer com diabetes. Eu não quero que, com o passar dos anos, eu tenha que cortar um pé meu, ou ficar cego. Não quero!

Eu vivi muito, e eu tenho ainda muito por viver. Eu quero, tenho sede de viver. A vida inteira foi essa terrível luta contra o peso, mas eu tenho uma força animal, porque eu devia ser um detonado. Então eu amo o Osho do fundo da minha alma, porque ele salvou minha vida com suas meditações, com suas palavras diretas. Eu amo a bioenergética porque ela salvou minha vida, porque todo o choro que ela tirou dentro de mim foi o que me salvou. Foi o que fez o açúcar não ter me detonado antes, foi o que me salvou do cigarro, de não explodir meu pulmão. Então eu tenho muita gratidão a isso tudo, pois são vícios terríveis.

Meu problema era emocional – eu queria uma namorada. Eu não queria cigarro, não queria Coca-cola, não queria cacetinho, não queria cuca. Eu queria uma namorada, eu queria amor. E muito cedo já faltou esse amor da minha mãe. Ela lá tem suas razões, também não recebeu amor, não sabia, só sobrou porrada pra mim. Mas a falta daquele amor eu tive que substituir com outra coisa.

Tem crianças que substituem por depressão, por manha. Hoje as crianças estão substituindo com a porcaria do celular, que daí tu nem nota, mas o cérebro delas está ficando limitado. Celular é um veneno! E os pais dão celular para as crianças – até para as pequenininhas – porque não têm saco de ficar com elas, porque estão criando um monte de gente manhosa.

Isso tudo eu posso dizer porque eu tenho minha vida como exemplo e a minha luta foi forte. Vivi uma vida em comunidade, que também fez uma diferença enorme: viver com gente que faz meditação, com gente que quer ter consciência na vida. Isso não significa que sou mais consciente, não! Eu fiz toda essa bandalheira que estou falando para vocês, mas foi uma luta e, através dessa luta, hoje me sinto uma pessoa extremamente consciente.

Por que eu ganhei essa luta? Por amar. Eu tive amores muito profundos. Eu tive muita sexualidade conectada com o coração. Isso fez com que os meus vícios não me detonassem. Então eu sou muito fanático, apaixonado pelo Osho, pela bioenergética, por ver o que fez em mim. E eu vejo o que faz com o resto das pessoas, porque esse vício emocional é terrível.

Nós abusamos da coisa. As pessoas hoje abusam do álcool. Eu nunca gostei do álcool, mas as pessoas abusam. É álcool para tudo, aquela cerveja, aquele drink, sabe o motivo? Pura carência emocional. Eu me lembro – memória bem clara – dos bailes de Garibaldi: as primeiras horas do baile nós enchíamos a cara para ficar bêbados, porque só assim nós teríamos coragem de falar com as gurias. Só que aí já era tarde e, óbvio que bêbado, só levava pontapé na bunda. No fim, nós saímos do baile bêbados e íamos num boteco chamado Spader de um gringo que fazia tripada, aquele bucho, mondongo. Nós íamos lá e comíamos um monte de mondongo para ir dormir. Não bastando isso, eu chegava em casa e comia boa parte da sobremesa de domingo. Meus irmãos e irmãs lembram bem disso. Ficava todo mundo puto da cara e eu comia já um monte. Para que? Para ir dormir sozinho, carente.

Então não adianta você querer me enganar. Você tem um monte de subterfúgios para fugir disso. Graças a Deus eu fui confrontado profundamente nisso e eu fui atrás do amor. E eu consegui! Esse foi o jeito

de largar essas drogas todas – com muita ajuda de terapia, muita ajuda mesmo. E você tem que olhar para você. Como você está fugindo? A internet… Ah, a internet é melhor do que as cucas da minha mãe. Ela é muito disfarçada, ela não vai te dar peso, mas ela vai ocupar teu cérebro para que tu comece a anestesiar os teus sentimentos. E isso é o maior veneno: anestesiar os sentimentos. Daí tu nem mais sente falta de um amor.

Tu sente falta da conexão, tu sente falta do wi-fi e dessas porcarias todas. Isso é terrível, porque a fonte é a falta de amor. Eu me lembro bem que quando eu estava com alguém meu consumo de Coca-Cola caía um monte. Quando eu não estava eu tomava Coca-Cola para caramba. Então a associação com a carência é incrível, não tem como fugir disso. Para de tapar teus olhos, vai em busca do amor. Usa daquilo que puder te ajudar para entrar nesse caminho.

Eu achei o Osho, eu achei a bioenergética. Isso me levou para esse caminho, por isso sou grato a eles. Sou grato que eu vivo numa comunidade que tem pessoas que podem chegar e dizer “Ô Milan, para com isso! Baixa o açúcar, para de comer”. Então hoje eu posso te dizer isso: te liga, porque você pode estar jogando a sua vida fora!

Eu estava jogando, eu tiver que ter muita garra e ajudas para conseguir isso. Tive que batalhar, lutar muito, muito. Espero que você tenha sorte de ter amigos que nem eu tive, parceiras que nem eu tive, que me ajudaram muito nesse processo. Boa sorte! Encontre um caminho que vai te ajudar, sozinho vai ser difícil. Sozinho é quase impossível. Então Osho, muito obrigado! Bioenergética, muito obrigado! Comunidade, muito obrigado. E todos aqueles que buscam uma consciência mais profunda da vida, muito obrigado porque essas energias acabam se voltando, se somando e atingem a todos nós.

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